domingo, 17 de fevereiro de 2008

Egon Schiele

















Egon Shiele nasceu a 22 de Junho de 1890 em Tullin,uma pequena aldeia situada nas margens do Daúbio,a 40Km de Viena.O seu pai era o chefe da estação e era ali mesmo que vivia a família.O jovem Schiele cresceu num meio típico de funcionários de província.Ainda criança passava horas a desenhar e não era feliz senão diante de uma folha de papel e lápis de cor.Mesmo na escola,fosse em Tullin,no colégio ou no liceu de Klosterneuburg,nada mais despertava o seu interesse.
Nunca em torno de nenhum outro artista do seu tempo se criaram tantos mitos como aconteceu com Egon Schiele.Biografos e historiadores de arte evocam uma vida neurótica e profundamente trágica।Vêem nele um psicopata,um obscecado sexual,um fogoso revolucionário ou,no mínimo,um agitado.Uma biografia obtém tanto mais sucesso quanto apresente o protagonista envolto num enredo em que abunde o escândalo e a complexidade,pois mesmo que o essencial de uma personalidade não resida na infracção e na transgressão das regras,existe sempre a tentação de «inventar» e «romanciar».
(Texto retirado de Egon Schiele-Obras em Papel de Serge Sabarsky-Edição da Culturgest)




ARTE ERÓTICA



O obsceno
As peças eróticas constituem um núcleo importante na obra de Schiele.Trata-se de quadros a aguarela ou guache,onde o artista vai mais além do simples tema do nu para representar,de forma unívoca e por vezes crua,os sexos feminino ou masculino,ou então uma prática sexual determinada.O quadro “Observada a Sonhar(1911)" representa uma mulher nua deitada de pernas abertas, com meias calçadas,e oferecendo os grandes lábios do seu sexo pintados de um cor de laranja vivo.Esta foma de representar a masturbação tem uma longa tradição na arte erótica.
No entanto,é obvio que a dedicação de Schiele a motivos eróticos também estava ligada a necessidades económicas.Os desenhos eróticos eram comercializados num mercado de arte paralelo e frequentemente encomendados directamente ao pintor.Era impensável expô-los,pois eram considerados obscenos,colidindo com as regras da moral e bons costumes.No processo que foi levantado contra Schiele em 1912,o pintor foi condenado pela exposição de arte erótica num espaço público.

O tabu do onanismo
O auto-retrato de Schiele em que aparece a masturbar-se documenta a sua desinibição sexual.No quadro “Eros” apresenta o tema da sua própria sexualidade.Ao contrário das representações da masturbação feminina,o pintor analisa à frente do espelho as suas próprias reacções emocionais.Trata aqui o tema de uma prática sexual na altura proibida e apenas realizada às escondidas.Ao mesmo tempo,liberta-se de uma tradição iconográfica («porngráfica») que representava quase exclusivamente os genitais femininos com os pêlos púbicos e a mulher a masturbar-se.Pode-se ter uma ideia da provocação que constituía o”Eros” de Schiele numa época em que onanismo era-e continuou a ser durante algum tempo ainda-perseguido no plano médico,psicológico e jurídico.A masturbação era um tabu absoluto.Na viragem do século havia uma verdadeira «fixação onanica»,já que se encaraca a masturbação como responsável por doenças mentais e perturbações diversas.Os médicos chegavam mesmo a submeter os seus pacientes a brutais mutilações dos órgãos genitais.
Os inavadores estudos de Freud sobre a sexualidade vieram retirar fundamento a estas bárbaras práticas.

O nu erótico
O que é um nu em arte?E o que o torna em erótico?
O crítico de arte britânico John Berger dá uma resposta interessante a estas perguntas.Explica que o nu se reporta sempre á sexualidade vivida .Estar nu significa mostra-se tal como se é.Na representação do nu,o,o retratado é visto pelos outros mas não enquanto indivíduo.Para se tornar um nu artístico,o corpo nu tem de ser visto como um objecto.A nudez desvela-se a si mesma,enquanto o nu artístico exibe-se.Se um ser humano é representado nu,a sua nudez é uma espécie de traje.É por isso que o nu artístico é uma forma de representação de vestuário.Os nus de Schiele mostram o corpo enquanto objecto,e como tal inscrevem-se ainda na tradição desta forma pictórica.O que é novo,em contrpartida,é o exibicionismo do sexo.
Nas representações oficiais de nus do século XIX era impensável reprodusir os pêlos púbicos e a vulva.Na fotografia erótica artística retocavam-se as características sexuais primárias para dissimulá-las,ou então vestiam-se os modelos com “maillots” cor de pele de corpo inteiro que imitavam a superfície das estátuas da Antiguidade.Estes nus estimulavam as fantasias dos observadores sem,todavia,consederem ao retratado uma sexualidade activa.Schiele afastou-se radicalmente deste esquema ao eleger como objecto da sua arte o corpo dotado de uma sexualidade activa.Exibia os seus modelos em posições possíveis (e impossíveis),para orientar o olhar para o centro erótico do quadro.
O nu tradicional da pintura de salão do século XIX é moderadamente erótico,pois é marcado por uma nudez pudica.Schiele ultrapassa a convenção.Os seus nus são «impúdicos»,exibindo os órgãos genitais e os pêlos púbicos,e nomeando a sexualidade com toda a crueza.
(Texto retirado da edição portuguesa de 2001 da Könemann Verlagsgesellschaft Schiele.Leben und Werk) mbh-Egon

1 comentário:

Giuliano Gimenez disse...

gostei muito do espaço.

voltarei.